O fascismo não é algo ultrapassado, mas uma forma de entender a Modernidade. Entrevista especial com Manuel-Reyes Mate

A barbárie não brota de mentes desequilibradas, mas de uma racionalidade instrumental altamente calculada, a partir da concretização da tese benjaminiana de que “fascismo e progresso coincidem”, observa Manuel Reyes Mate

Por: Márcia Junges, em IHU

Não apenas exterminar fisicamente um povo inteiro, mas apagar quaisquer vestígios e contribuições metafísicas dos judeus para a história humana era o desejo do III Reich e sua racionalidade da eficácia, que fazem de Auschwitz um genocídio único. Para o filósofo espanhol Manuel Reyes Mate, “a racionalidade da eficiência não está apenas por trás do modo como os conspiradores de Wansee decidiram levar a cabo a solução final. É claro que há uma justificativa de eficiência por trás da criação dos campos de extermínio. Mas se essa racionalidade era exercida tão naturalmente pelos honrados cidadãos alemães, é porque fazia parte da cultura de sua época. Devemos nos perguntar sobre a afinidade entre a racionalidade da eficiência e a racionalidade do lucro que prevalece no sistema capitalista”. A nada casual coincidência entre fascismo e progresso aponta para um modelo de racionalidade que não se desfez em nosso tempo. Pelo contrário, segue operativo e tem consequências dramáticas sobre a política democrática liberal, sempre prestes a gerir o monstro autoritário que se metamorfoseia conforme o contexto geográfico e epocal. (mais…)

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O imperador e sua corte de magnatas

Uma aliança nefasta foi forjada. Os bilionários, que antes viam Trump com desconfiança, adentraram a Casa Branca, governam sem intermediários e dão retaguarda para delírios imperiais do presidente. Como chegaram lá? Quais seus planos? Que fazer para enfrentá-los?

Por John Bellamy Foster, no Monthly Review | Tradução: Marcos Montenegro, em Outras Palavras

Neoliberalismo e a classe dominante dos EUA
Se houve um amplo abandono da noção de classe dominante no marxismo ocidental no final dos anos 1960 e 70, nem todos os pensadores se alinharam. Sweezy continuou a argumentar na Monthly Review que os Estados Unidos eram dominados por uma classe capitalista dominante. Assim, Paul A. Baran e Sweezy explicaram em Capital Monopolista em 1966 que “uma pequena oligarquia apoiada em vasto poder econômico” está “no controle total do aparato político e cultural da sociedade”, tornando a noção dos Estados Unidos como uma democracia autêntica, na melhor das hipóteses, enganosa.38 (mais…)

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A gamificação do ódio no submundo das redes

No Discord, jovens são recrutados para comunidades que glorificam o ódio à mulheres e LGBTQIA+. Adesão se dá por desafios e recompensas. Tentativa de atentado no show de Lady Gaga é alerta que mostra a necessidade de compreender a masculinidade ressentida das novas gerações

Por David Nemer e Arthur Coelho Bezerra, no The Conversation

As mais de 2 milhões de pessoas que assistiram ao show gratuito de Lady Gaga na praia de Copacabana, no sábado passado (03/05), não podiam imaginar que quase viveram uma tragédia motivada pelo ódio. Enquanto o mar de gente batia leques em sincronia com os sucessos da cantora, em uma celebração de diversidade e empatia, a Polícia Civil do Rio de Janeiro impedia um ataque com coquetéis molotov e bombas improvisadas. (mais…)

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Realgolpetik: os números da base aliada do golpismo no Congresso Nacional. Por Hugo Souza

Dos 315 votos favoráveis à Sustação de Andamento de Ação Penal 1/2025, 197 foram de partidos que compõem o primeiro escalão do governo Lula. Ex-presidente da CPMI do Golpe votou com os golpistas.

No Come Ananás

Sete dos 11 partidos com representação na Esplanada dos Ministérios do governo Lula entregaram 62,5% dos votos para a aprovação nesta quarta-feira, 7, na Câmara dos Deputados, da sustação da ação penal por golpe de Estado que corre no STF contra Jair Bolsonaro e outros tantos réus, entre eles o pretexto para o mais novo putsch parlamentar, Alexandre Ramagem. (mais…)

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A internacional fascista como modo de vida. Entrevista especial com Augusto Jobim do Amaral

Esquerdas governamentais, conciliatórias e apaziguadoras reduziram-se a “salvar o capitalismo dele mesmo” e não conseguem canalizar inconformidade e indignação, tarefa que o fascismo desejado e reivindicado pelas massas tomou para si com sucesso

Por: Márcia Junges, em IHU

“O fascismo, aqui e em outros lugares, é a única força com ímpeto de transformação frente a um esgotamento da democracia liberal. A capacidade política anti-institucional foi praticamente toda cooptada por estas forças, isso a faz insurrecional, ainda que cinicamente jogue com a dimensão instituída. Ela oferece a pior resposta possível a um diagnóstico verdadeiro que, em grande medida, as decrépitas forças progressistas buscam negar. Eis o nosso negacionismo, aliado a uma melancolia, que somente nos tem conduzido a sermos o partido da ordem, reativamente compondo a defesa de instituições decrépitas, na direção da conquista do centro político”. A afirmação é de Augusto Jobim do Amaral na entrevista concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, que complementa: “Oxalá houvesse a tão propalada polarização e que, de fato, conseguíssemos produzir um extremo outro ao fascismo. Mas seguimos gerindo as mesmas condições nefastas, como esquerdas governamentais, que nos trouxeram até aqui, ou seja, uma postura conciliatória e apaziguadora”. (mais…)

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“Toda política hoje é mesopolítica: uma política de meios e de mediações”. Entrevista especial com Rodrigo Petronio

O professor e ensaísta analisa como Donald Trump se transformou em um showman global da antipolítica extremista de direita

Por: Baleia Comunicação | IHU

Se na segunda metade do século XX as democracias eram usurpadas com tanques e coturnos, no século XXI a democracia é tomada de assalto por meio de uma espécie de atentado contra a linguagem. “Destruindo a linguagem, conseguimos destruir a própria efetividade dos argumentos e da refutação. A estratégia é muito clara. E foi usada no Brasil por [Jair] Bolsonaro. E tem sido utilizada por todos os políticos de extrema-direita, incluindo Trump. A ideia básica é criar dispositivos de poder baseados em dispositivos de linguagem que deteriorem a possibilidade de diálogo”, pondera Rodrigo Petronio, em entrevista por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU. (mais…)

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Do neofascismo brasileiro à “terceira via”

Exame da vida institucional recente do país revela: as classes dominantes não precisaram de um fascismo clássico – nem permitiram que ele se instalasse. Mas surgiu um movimento fascista; e este pode ser uma das bases para uma candidatura neoliberal-autoritária, porém “palatável”, em 2026

Por Jorge Almeida*, em Outras Palavras

A condenação de Jair Bolsonaro à inelegibilidade e sua provável condenação à prisão como líder da tentativa de golpe de Estado, abriram a temporada de disputa de seu legado neofascista e de seus votos. Diferentes políticos profissionais ligados ao ex-presidente disputam esse espaço eleitoral assim como a base de um comportamento político-ideológico da direita liberal mais tradicional. (mais…)

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