A barbárie não brota de mentes desequilibradas, mas de uma racionalidade instrumental altamente calculada, a partir da concretização da tese benjaminiana de que “fascismo e progresso coincidem”, observa Manuel Reyes Mate
Por: Márcia Junges, em IHU
Não apenas exterminar fisicamente um povo inteiro, mas apagar quaisquer vestígios e contribuições metafísicas dos judeus para a história humana era o desejo do III Reich e sua racionalidade da eficácia, que fazem de Auschwitz um genocídio único. Para o filósofo espanhol Manuel Reyes Mate, “a racionalidade da eficiência não está apenas por trás do modo como os conspiradores de Wansee decidiram levar a cabo a solução final. É claro que há uma justificativa de eficiência por trás da criação dos campos de extermínio. Mas se essa racionalidade era exercida tão naturalmente pelos honrados cidadãos alemães, é porque fazia parte da cultura de sua época. Devemos nos perguntar sobre a afinidade entre a racionalidade da eficiência e a racionalidade do lucro que prevalece no sistema capitalista”. A nada casual coincidência entre fascismo e progresso aponta para um modelo de racionalidade que não se desfez em nosso tempo. Pelo contrário, segue operativo e tem consequências dramáticas sobre a política democrática liberal, sempre prestes a gerir o monstro autoritário que se metamorfoseia conforme o contexto geográfico e epocal. (mais…)